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domingo, 28 de julho de 2013

Relatório 2013 da OMS para as hepatites virais


Foi publicado o Relatório 2013 da OMS para as hepatites virais


O relatório coloca a situação do enfrentamento das hepatites virais em cada país conforme as respostas que cada país informou oficialmente em um formulário padrão, igual para todos os países. 

A OMS foca muito a prevenção, na redução de danos, devido ao uso muito grande de drogas injetáveis nos Estados Unidos, Europa, Ásia e outras regiões, um problema que o Brasil afortunadamente já enfrentou e praticamente superou. Hoje não mais se vê gente usando drogas injetáveis no país. Parabéns ao governo e ao trabalho da sociedade civil em especial aos grupos RNP. 

Pessoalmente tenho serias criticas sobre as dados apresentados no relatório da OMS devido à forma "chapa branca" como os dados foram levantados. Um formulário foi enviado aos governos e a situação de cada país foi somente discutida com a World Hepatitis Alliance, mas as associações de pacientes, ONGs e sociedades médicas locais não foram chamadas para verificar se os dados refletem a real situação de cada país. 

A OMS confiou a World Hepatitis Alliance para a confirmação dos dados, mas nem sequer está consultou seus 175 associados nem as estimadas 2.000 ONGs de hepatites que existem no mundo ou as mais de 5.000 da AIDS que já se envolvem nas hepatites devido a co-infecção e especialmente na redução de danos. 

Fica registrado assim o meu protesto e alerta para os que leiam o relatório da OMS. 

A seguir faço um rápido resumem do que consta de mais importante em relação ao Brasil com meus comentários em cada tema destacados em vermelho. 

Informam que nas Américas está colocado que somente Estados Unidos e Argentina possuem programas específicos para cuidar das hepatites virais. No Brasil e em outros países elas estão dentro de departamentos que cuidam de outras doenças, não possuindo um programa especifico. MEU COMENTÁRIO: Isso é péssimo, ao se colocar as hepatites sob o chapéu da AIDS as verbas que sobram para as ações nas hepatites são insignificantes. 

O Brasil informou a OMS que possui um departamento governamental (Departamento DST/AIDS/Hepatites) responsável para atividades relacionadas com a hepatite viral com 250 funcionários, mas não soube informar quantas pessoas trabalham em tempo integral somente para as hepatites. MEU COMENTÁRIO: Somente agora, em julho de 2013 é que um funcionário do Departamento DST/AIDS/Hepatites foi designado para cuidar das hepatites. Até o momento não tinha ninguém para cuidar das hepatites. 

Informam que o governo brasileiro informou que realizou eventos para o Dia Mundial da Hepatite em 2012 e financia campanhas de conscientização pública da hepatite viral desde janeiro de 2011. O governo colabora com ONGs para desenvolver e implementar a prevenção das hepatites virais e programas de controle.MEU COMENTÁRIO: Alguém viu as campanhas do governo federal em 2012 ou 2013? Colocar uma matéria ou vídeo na página do Departamento na internet pode ser considerada uma campanha? 

Informam que existe vigilância de rotina para a hepatite viral com um sistema nacional de vigilância para os seguintes tipos de hepatite aguda: A, B, C, D e E, e para os seguintes tipos de hepatite crônica: B, C e D. Existe notificação de todos os casos de hepatite. Óbitos, incluindo os causados pelas hepatites, são relatados a um registro central. Casos de câncer de fígado não estão registrados nacionalmente. MEU COMENTÁRIO: É sabido por todos que não existe um sistema serio de notificação dos casos de hepatites se estimando que entre 70% e 80% dos casos não são notificados devido à burocracia e complexidade da ficha de notificação, um sistema arcaico ainda no papel. O sistema de notificação foi criado para que a hepatite não apareça nas estatísticas. 

Informam que surtos de hepatite são obrigatoriamente notificados ao governo para serem investigados. 

Informam que não existe agenda para alguma pesquisa nacional de saúde pública para as hepatites virais. 

Informam que inquéritos sorológicos para as Hepatites Virais são realizadas regularmente, para populações alvos (adolescentes, profissionais de saúde, mulheres grávidas e tatuadores) e para a população em geral. O último inquérito sorológico foi realizado em julho de 2012. MEU COMENTÁRIO: ????????? 

Prevenção da transmissão 

Informam que não há uma política nacional de vacinação da hepatite A. 

Informam que o governo não estabeleceu um objetivo para eliminar a hepatite B. MEU COMENTÁRIO: Até agora todos os planos apresentados (nunca cumpridos) nunca possuíam metas quantificáveis, eram simples promessas genéricas, como diz a sabedoria popular "para inglês ver". Parece que isso vai acabar com a nova direção do departamento DST/AIDS/Hepatites. 

Informam que não se sabe qual a percentagem de recém-nascidos a nível nacional que receberam a vacina da hepatite B nas 24 horas após o nascimento ou qual percentual de vacinados ao completar um ano de idade. MEU COMENTÁRIO: Um absurdo total! 

Informam que não há uma política nacional de segurança recomendando seringas de uso único para fins terapêuticos. 

Informam que não há uma política nacional de controle de infecção para bancos de sangue. Todas as bolsas de sangue doadas (incluindo doações de familiares) são testadas para as hepatites B e C. MEU COMENTÁRIO: São captadas 4 milhões de bolsas de sangue a cada ano, se 1% delas dar reagente para hepatite C deveriam chegar a Brasília 40.000 notificações, mas na estatística oficial somente aparecem entre 12 e 15.000. 

Informam que as pessoas que realizam o teste para o vírus da hepatite B e hepatite C são registradas pelo nome, e os nomes são mantidos confidenciais dentro do sistema. 

Informam que o tratamento com financiamento público para a hepatite B e hepatite C pode ser obtido por toda a população. Não foram fornecidas informações sobre o montante gasto pelo governo nos tratamentos para a hepatite B e hepatite C. MEU COMENTÁRIO: É uma verdade, mas existe lista de espera para realizar as biopsias, carga viral e depois conseguir vaga em um hospital. Somente 12.000 tratamentos de hepatite C a cada ano são realizados, para uma população estimada em 3 milhões de infectados. 

O relatório completo da OMS é encontrado em http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/85397/1/9789241564632_eng.pdf 

COMENTÁRIO DE ÚLTIMO MOMENTO 

O Departamento DST/AIDS/Hepatites (Brasil) e a Organização Mundial da Saúde preferem ignorar as ONGs que criticam e reivindicam, preferindo ouvir e sentar somente com aquelas ONGs adesistas que somente servem para bater palmas à falta de ações dos encastelados gestores da saúde, tendo como resultado informações incorretas com as quais tentam mostrar um panorama bom e efetivo no combate as hepatites ou mostrar número subnotificados da incidência da doença. 

Em geral essas ONGs adesistas não representam nem sequer os infectados de seu bairro na sua cidade. As que se autodenominam nacionais o fazem porque o papel timbrado de uma folha de papel aceita qualquer coisa, mas perguntem quantas reuniões e palestras estão fazendo para aqueles que precisam apoio e não terão resposta, no máximo irão informar que possuem uma página numa rede social com algumas fotos e, as internacionais, bom, dessas melhor nem falar porque são simplesmente umas poucas ONGs que dizem falar em nome de todas sem ter autorização para tal. 

Afortunadamente algo está mudando neste momento no Brasil e espero que seja exemplo para o mundo. No evento "Acesso aos medicamentos e kits de diagnósticos para Hepatite C - Identificando o papel da Sociedade Civil e outras demandas" realizado no dia 25 em Santos (SP), o novo diretor do Departamento, Dr. Fábio Mesquita disse que a sua gestão será pautada pelas evidências científicas, pelo dialogo em todos os setores da sociedade e por trazer inovação. "Diferente do Papa, eu não posso prometer milagre. Eu não acho que podemos solucionar todos os problemas, mas eu estabeleci neste momento três prioridades na luta contra as hepatites virais". 

A primeira prioridade citada foi criar uma área específica de hepatites dentro do Departamento, e isso, de acordo com ele, "já é um sinal de que as hepatites sairão daquela posição que se encontravam diluída dentro do Departamento"; a segunda prioridade foi cancelar o boletim epidemiológico que seria divulgado neste ano já que seria uma irresponsabilidade por parte do governo, pois não trariam informações corretas; e o terceiro compromisso assumido com o movimento social é mudar a forma da dispensação dos medicamentos de hepatites, facilitando o acesso ao tratamento. 

Carlos Varaldo
e-mail: hepato@hepato.com - e-mail opcional: grupootimismo@gmail.com 
www.hepato.com

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