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quarta-feira, 9 de julho de 2014

Quantos realmente curam a hepatite C



08/07/2014 


Quantos realmente curam a hepatite C


Semana passada alguns jornais publicaram que somente 9% dos infectados com hepatite C conseguem a cura da doença. Mais uma vez uma noticia negativa com o único objetivo de aumentar a venda de jornais. Deveriam ser processados por espalhar dados de forma errada e tendenciosa.

Vamos à verdade explicando simplesmente os fatos. Os 9% de infectados com hepatite C que resultaram curados com o tratamento é um número verdadeiro baseado em dados oficiais do "National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES)" dos Estados Unidos, país em que se estima que 3,5 milhões de americanos estão infectados com hepatite C. Sobre esse dado é realizada pelo próprio NHANES a seguinte analise, em forma de uma "cascada" para sua interpretação (acompanhe pelo quadro da imagem).

1 - Nos Estados Unidos é estimado que 50% dos 3,5 milhões de infectados já estão diagnosticados e estão conscientes da infecção;

2 - Aqui já começa a primeira distorção do resultado. A considerar não os já diagnosticados e sim o total dos 3,5 milhões estimados se observa que 43% dos diagnosticados tiveram informações da hepatite C durante uma consulta ambulatorial;

3 - Que 27% do total de infectados realizaram a confirmação da doença pela biologia molecular (PCR - Carga Viral);

4 - Que 17% dos diagnosticados realizaram uma biopsia para conhecer o estado do fígado;

5 - Que 16% dos diagnosticados receberam tratamento antiviral e,

6 - Que 9% no total de prováveis infectados (3,5 milhões) resultaram curados com o tratamento.

É aqui que a informação foi manipulada com o intuito de alarmar os infectados ao informar que somente 9% conseguem a cura. Ora diabos, os 9% é um dado hipotético que informa que dos 3,5 milhões de "prováveis" infectados, somente 315.000 (9%) obtiveram a cura. Uma forma errada propositalmente para chamar a atenção.

Os números corretos para saber quantos resultam curados deve considerar somente os 560.000 (16%) que receberam tratamento, sendo que desses 315.000 resultaram curados, isto é, a cura foi de 56% dos pacientes tratados e não 9% como se encontra colocado nas manchetes dos jornais.

Qual é o interesse de manipular a informação para alarmar os infectados e criar maior estigma e discriminação? 


Aproveitando a "cascada" para imaginar o quadro no Brasil utilizando então dados hipotéticos e estimados já que não existem registros ou estatísticas confiáveis da notificação dos casos diagnosticados:

1 - No Brasil é estimado que 10% dos 3 milhões de infectados já estão diagnosticados e estão conscientes da infecção;

2 - Não existe nenhum estudo que informe qual percentual dos diagnosticados com um anti-HCV receberam algum tipo de informação sobre hepatite C;

3 - Por falta de notificação não se conhece quantos casos anti-HCV positivos são confirmados por biologia molecular (PCR - Carga Viral);

4 - Não se conhece quantos infectados confirmados realizaram uma biopsia para conhecer o estado do fígado;

5 - É sabido que em 2003 quando da criação do Programa Nacional de Hepatites sete mil infectados receberam tratamento antiviral;

6 - É sabido que em 2013 foram tratados 12.600 infectados e que entre 12 e 15% eram referentes à retratamento, assim, o número de pacientes recebendo tratamento pela primeira vez é estimado em 11.000 infectados;

7 - Nos 11 anos de tratamento no SUS, partindo de 7.000 tratamentos em 2003 e chegando a 11.000 em 2013, é possível estimar pela média que tenham sido beneficiados com o tratamento aproximadamente 100.000 infectados;

8 - Não podemos utilizar o mesmo porcentual de curados nos Estados Unidos, pois o Brasil ainda utiliza o interferon convencional no tratamento dos genótipos 2 e 3, medicamento ultrapassado há muito tempo abandonado em outros países, portanto, o percentual de cura deve ser menor, mas se utilizamos os mesmos 56% de cura dos Estados Unidos podemos imaginar que 56.000 infectados já estão curados da hepatite C no Brasil.

CONCLUSÃO - UTILIZANDO O MESMO CRITÉRIO DOS ESTADOS UNIDOS:

Se 56.000 infectados sobre um total de 3 milhões de brasileiros infectados resultaram curados, poderíamos colocar nas manchetes dos jornais que a cura da hepatite C beneficia menos de 2% dos infectados, um número que seria impactante, mas que não reflete a realidade dado que 90% dos infectados ainda não estão diagnosticados e os dados das notificações, Carga Viral e biopsia não são minimante confiáveis. 

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