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quarta-feira, 16 de julho de 2014

Todos os infectados com hepatite C receberão tratamento?




Todos os infectados com hepatite C receberão tratamento?


Como ativista que há 15 anos luto pelos infectados com hepatite C, saúdo com entusiasmo o lançamento dos novos medicamentos que prometem curar mais de 90% dos casos sem necessidade de judiar o paciente durante 48 semanas de sofrimento causado pelo horrível e terrível interferon injetável. 

Os novos medicamentos permitem tratar a hepatite C em 12 semanas, aumentam a resposta terapêutica e apresentam mínimos e toleráveis efeitos colaterais. Praticamente um milagre que devemos agradecer principalmente aos pesquisadores e, em menor grau a indústria farmacêutica que financiou as pesquisas. 

Coloquei que devemos agradecer em menor grau a indústria farmacêutica após analisar reportagens dos últimos dias em jornais do mundo todo. Todos eles condenam o alto preço dos novos medicamentos, preço esse que vai beneficiar somente um pequeno número de infectados com hepatite C, assim, o grande milagre da cura para todos, por enquanto, não vai se concretizar. 

O meu otimismo inicial diminui quando alguns blogs comentam (rumores não confirmados) que o tratamento 3D da AbbVie pretende competir com o sofosbuvir no mérito do produto e não no preço. Não acredito nessa informação, pois em 2015 Gilead e BMS terão medicamentos de uma pílula ao dia e o tratamento da AbbVie necessitará de 3 pílulas ao dia, pelo qual o torna menos competitivo em relação a adesão do paciente, a não ser que contrariando o rumor ofereçam um preço bem inferior. 

Por outro lado, o meu otimismo aumenta quando leio na Bloomberg que a Gilead, fabricante do sofosbuvir, fechou acordo com Médicos sem Fronteiras para adquirir sofosbuvir a 900.- dólares por tratamento, mas somente para tratar pacientes no Quênia, Moçambique, Mianmar e provavelmente Índia. 

E na Índia a empresa Natco Pharma entrou com recurso legal para que o sofosbuvir não consiga aprovação da patente no país. Conseguindo sucesso a empresa indiana deverá lançar uma versão genérica do medicamento, que segundo rumores já teria desenvolvido a formula para a fabricação. 

França e outros 14 países da Europa estão negociando preços, pois alegam que se aceitam um preço tão alto não será possível oferecer tratamento a todos os infectados. Uma reunião do Conselho da Comunidade Europeia está convocando uma reunião dos 28 países membros para final de setembro para traçar uma estratégia conjunta. O sofosbuvir vendido a 84 mil dólares nos Estados Unidos já está sendo vendido a 66 mil dólares na Alemanha e a 57 mil dólares no Reino Unido. As importadoras do Brasil amparadas pela RDC 81/2008 da ANVISA, para os medicamentos ainda não disponíveis no comercio brasileiro, o importam desses países. 

Nos Estados Unidos o Congresso está solicitando a Gilead para explicar como foi realizado o calculo para estabelecer o preço em 84 mil dólares. A "National Coalition on Health Care is America's" um grupo que reúne seguradoras, sindicatos, consumidores e fabricantes de medicamentos genéricos solicitou semana passada que o governo abra um "dialogo nacional" alegando que o preço do sofosbuvir ameaça os orçamentos dos sistemas de saúde, públicos e privados. O problema do alto custo dos medicamentos já está impedindo o acesso ao tratamento. As companhias de seguros, governo (Medicare, Medicaid, Veteranos de Guerra, etc.) estão tentando negociar por ser muito grande número de pessoas que precisam ser tratadas. 

Qual o cenário que poderá acontecer? 

Sempre que se reclama sobre o preço exorbitante dos medicamentos as empresas farmacêuticas respondem ser isso um ataque à inovação, que se não tiver retorno não existem incentivos a novas pesquisas. 

Pessoalmente considero que a inovação científica tem que ser sustentável, mas essa inovação deve ter preços que não tornem insustentáveis os sistemas de saúde. O mundo teria erradicado a pólio ou a varíola se o preço desses medicamentos fossem similares aos novos para hepatite C? 

Os responsáveis dos sistemas de saúde e ativistas dos pacientes afirmam que o preço do sofosbuvir é extorsivo ameaçando os sistemas de saúde, mas no momento não existem outras opções terapêuticas, situação que certamente vai mudar em 2015, já com três concorrentes. 

É nesse ponto que reflito o que poderá acontecer nos próximos meses. Muitos governos e sistemas de saúde para não falir continuarão negociando com os fabricantes e durante esse tempo deixarão de atender a maioria dos infectados beneficiando somente o pequeno grupo dos casos mais graves. Os governos estarão aguardando a chegada ao mercado dos medicamentos concorrentes e, se o preço não cair, estarão aguardando os fabricantes dos medicamentos genéricos. Antes disso considero que será muito difícil que a maioria dos infectados receba tratamento. 

Não sei quando tempo isso poderá levar, mas enquanto durar o impasse ironicamente a maioria dos infectados não estará recebendo tratamento e as empresas farmacêuticas não estarão vendendo. No fundo, todos estarão perdendo. É urgente se chegar a um acordo de preços. 




Qual sua opinião sobre o preço os novos medicamentos para tratamento da hepatite C?


Qual sua opinião sobre estratégia de negociação que o governo deveria adotar? 

Acesse 
https://pt.surveymonkey.com/s/mmedicamentos1 e participe respondendo somente duas perguntas. A sua opinião será muito importante para sabermos qual caminho deveremos tomar na nossa luta, queremos saber que posicionamento tomar. 

Até o momento a discussão é realizada somente entre governos e fabricantes. Com sua opinião pretendemos que os infectados também participem da discussão, que sejam ouvidos, pois são os principais interessados nos medicamentos. 


Juntos podemos vencer as Hepatites!




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