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quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Comentários do HCV2020 - Oxford 2014



Comentários do HCV2020 - Oxford 2014
06/10/2014

Com o objetivo de encontrar opções de tratamento eficazes focando nas perspectivas dos profissionais da saúde e dos pacientes, com propostas de modelos que possam influenciar na adopção de politicas publicas no enfrentamento da hepatite C pelos governos, um grupo de 77 participantes ficou reunido durante dois dias na Universidade de Oxford na Inglaterra.

Faziam parte 45 médicos, 9 gestores públicos e 14 associações de pacientes de Bulgária, Croácia, França, Nova Zelândia, Portugal, Espanha, Reino Unido, Estados Unidos e Brasil (representando América Latina). A intenção foi juntar todos os pontos de vista de todos os que estão diretamente involucrados no tema.

Inicialmente foi abordada a carga global da hepatite C e as limitações do tratamento enfrentadas pelos infectados. Para tal foram discutidas e revistas ações na prevenção, acesso ao tratamento, atenção ao paciente e o acompanhamento após o tratamento.

A discussão dos temas estava centrada nos países da Europa (ocidental e oriental). Na Europa ocidental e oriental é estimado que existem 13,3 milhões de infectados, um número similar ao encontrado em todo o continente americano, de 13,8 milhões de infectados.

Como único participante da América Latina fui convidado porque o Grupo Otimismo foi o mais citado da região na pesquisa HCV2020 realizada pela World Hepatitis Alliance. Os resultados da nossa enquete sobre estigma e discriminação serão provavelmente utilizados pela pesquisa HCV2020.

A grande preocupação na Europa e, por isso o tema mais discutido é o crescente numero de novos infectados com hepatite C. A epidemia esta em aumento devido ao uso disseminado de drogas injetáveis. Diferentemente, na América Latina o uso de drogas injetáveis na atualidade não é significante. Perguntado sobre o porquê dessa diferença cultural expliquei que são três os fatores que contribuíram para diminuir o uso de drogas injetáveis: a realização de campanhas de redução de danos (especialmente no Brasil), a não entrada da heroína e principalmente o baixo preço da cocaína (inalada) e do crack (fumado) os quais passaram a ter a preferência econômica dos usuários.

A seguir o desafio era desenhar qual seria o cenário ideal daqui a cinco anos, em 2020, quais devem ser os passos necessários, como os aplicar considerando as diferenças regionais na Europa, o que deve ser feito primeiro, o que é possível fazer, o que pode causar maior impacto e quais os caminhos para se chegar lá.

É impressionante como as ações e prioridades são diferentes para médicos, gestores da saúde e organizações de pacientes. Cada um considera importante um plano de ação diferente. Eventos deste tipo são importantes porque ao discutir todos os pontos de vista passa a ser possível se chegar a um consenso sobre ações e prioridades que cada país deveria executar e, juntos, todos os atores passarem a trabalhar com um objetivo comum.

É fundamental iniciar campanhas de prevenção, em especial nos usuários de drogas injetáveis, realizar campanhas de screening nas populações com maior risco de infecção e testar a cada seis ou doze meses os usuários de drogas injetáveis para encontrar infecções recentes, antes de se tornarem crônicas, deve ser realizada a confirmação do diagnostico de todos os positivos no screening, e oferecer tratamento a todos os infectados usuários de drogas injetáveis independente do dano no fígado, deve se dar a atenção adequada do infectado durante o tratamento, realizar acompanhamento permanente a cada seis meses de todos os pacientes com cirrose e imediata realização de campanhas de informação objetivando diminuir o estigma e a discriminação dos infectados.

Tudo o discutido será elaborado num relatório com propostas e ideias possíveis de implementar que será proposto as autoridades de saúde dos diversos países da Europa.

Em relação ao preço dos novos medicamentos, os governos da Europa não estão conseguindo descontos substanciais como o conseguido pelo Brasil, mas as autoridades regulatórias de lá já aprovaram esses novos medicamentos e no Brasil a ANVISA está sentada acima dos processos e não aprovou nenhum deles. Não consegui explicar de forma convincente e confesso que passei vergonha ao falar da nossa ANVISA.

COMENTÁRIO FINAL

Após os dois dias de discussão regresso ao Brasil pensando como são diferentes os problemas e consequentemente os desafios. Na América Latina mal conseguimos encontrar 10% dos infectados com hepatite C enquanto que em alguns países da Europa já foram diagnosticados 20, 30, 40 e até 50% dos infectados.

Falta realizar na América Latina evento similar, pois até que não se tenha uma real "fotografia" país por país o enfrentamento da hepatite C será difícil, lento, sem objetivos. Deveria a Organização Pan-americana da Saúde assumir o compromisso de congregar os diversos setores e em evento similar ao realizado em Oxford chegar a desenhar um plano de ação para o continente.
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