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domingo, 16 de março de 2014

É justo o preço dos novos medicamentos para hepatite C?



É justo o preço dos novos medicamentos para hepatite C?
17/03/2014

Ninguém questiona que Sofosbubir e Simeprevir são dois medicamentos muito mais eficazes que os atuais tratamentos para hepatite C utilizando os inibidores de proteases Boceprevir e Telaprevir, mas dependendo da analise e ponto de vista a questão passa a ser se o preço elevado compensa os benefícios que podem ser conseguidos.

Um painel de especialistas da Califórnia, nos Estados Unidos, disse que os preços atuais representam um "valor baixo" quando se considera a vida das pessoas, os anos de vida com qualidade ganhos e a redução de custos futuros com o agravamento dos pacientes.

O custo do Sofosbuvir nos Estados Unidos é de 84.000.- dólares ( R$. 197.000,00) sendo que alguns pacientes deverão tratar pelo dobro do tempo, chegando então a 168.000.- dólares (R$. 294.000,00) por tratamento. O preço do Simeprvir é de 66,000.- dólares (R$. 155.000,00), mais o custo do interferon peguilado.

Quantos pacientes podem pagar esses preços? Planos de Saúde e governos possuem capacidade financeira para assumir tais custos em um número elevado de pacientes? É evidente que estamos perante uma encruzilhada, o morre o infectado com hepatite C ou morrem os sistemas de saúde público e privado.

No Brasil tratar um paciente no sistema público de saúde durante 48 semanas com interferon peguilado e ribavirina custa uns R$. 12.000,00, utilizando um dos inibidores de proteases o custo passa para uns R$. 55.000,00. Em medicamentos o orçamento é de aproximadamente 450 milhões de reais para tratar uns 12.000 pacientes a cada ano..

Imaginando, já que isso nunca vai acontecer, que todos sejam tratados com o Sofosbuvir. Se considerarmos os tratamentos ao preço de mercado seriam necessários mais de dois bilhões de Reais. Como o governo negocia muito bem o preço seria possível se chegar a uma cifra de mais ou menos de 900 milhões de Reais, o dobro do atual orçamento. Seria impossível um aumento de tal magnitude no orçamento.

Será que o governo aceitaria aumentar a verba para medicamentos das hepatites em 100%? Eu pessoalmente duvido muito que isso possa ser obtido com infectados que ficam em silencio, que não colocam a boca no trombone, que não se manifestam.

Vamos voltar aos Estados Unidos. Estão os que opinam que a vida não tem preço e os novos medicamentos devem ser oferecidos a todos, independente do preço. Outros especialistas opinam que até chegarem outros medicamentos com o que consequentemente o preço será reduzido, deveria se oferecer os tratamentos ao preço atual para somente os casos mais graves, mais avançados da doença. Acredito que este posicionamento será o que vai ser adotado inicialmente pelos governos.

Muito me preocupa a reação e posicionamento radical da "AIDS Healthcare Foundation" que solicitou ao sistema público de saúde MEDICAID dos Estados Unidos para não fornecer o medicamento Sofosbuvir para tratamento livre de interferon da hepatite C até que o fabricante não baixe o preço, forçando assim a empresa a negociar com o governo.

Os infectados com HIV/AIDS argumentam que elevar os custos de saúde no sistema público vai ocasionar uma perda da qualidade de atendimento em cuidados de saúde que atualmente salvam vidas. Se aparecer um medicamento que "cure" de forma definitiva a AIDS, será que os grupos de HIV/AIDS estariam colocando a mesma ponderação ou estariam lutando com todas as armas para conseguir o novo tratamento? Não deveriam por principio ético ter solicitado que deixem de comprar os medicamentos para tratamento da AIDS, que alguns também são extremamente caros?

Por último, para melhor explicar minha indignação, MEDICAID é o programa de saúde pública para atender os pobres, os sem recursos. Será que deve se negar tratamento somente aos pobres, em alguns casos os condenando a morte para forçar uma baixa no preço.

Afortunadamente a "AIDS Healthcare Foundation" é uma voz isolada no movimento da AIDS. Outros movimentos da AIDS já estão trabalhando em conjunto com Médicos sem Fronteiras, Medicinas do Mundo, Fundação Bill Clinton e outros, na Organização Mundial da Saúde para uma negociação global objetivando se obter um preço justo.

É dessa forma, sem olhar somente para o próprio umbigo, que a discussão sobre preços justos deve ser realizada. Não é humano querer prejudicar infectados pobres para forçar a negociação.
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