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quinta-feira, 1 de maio de 2014

Será inteligente continuar a utilizar o interferon no tratamento da hepatite C?


Será inteligente continuar a utilizar o interferon no tratamento da hepatite C?01/05/2014


Devido à diversas comorbidades ou pela intolerância ao medicamento o tratamento com interferon peguilado e ribavirina não pode ser indicado a todos os infectados com hepatite C. Um estudo italiano apresentado como pôster no EASL-2014 confirma dados já conhecidos pelos médicos sobre a pobre resposta terapêutica e o grande número de infectados que atualmente não podem utilizar interferon.

O estudo, realizado em 45 hospitais de Itália de forma prospectiva incluiu 1.128 pacientes com hepatite C. Foi realizada uma seleção para retirar os pacientes que não apresentavam carga viral e, também, os que já tinham recebido tratamento.

No total, 431 pacientes eram potenciais candidatos para receber indicação de tratamento com interferon peguilado e ribavirina por primeira vez. Ao analisar quais os critérios de "não elegibilidade" para poder receber tratamento com interferon peguilado e ribavirina segundo os consensos e protocolos, mais da metade não poderia ser tratado.

1 - Os principais motivos da "impossibilidade de receber tratamento pela inegibilidade" com interferon peguilado e ribavirina em 431 pacientes com hepatite C foram os seguintes:

- O tratamento não poderia ser indicado para 33,4% dos pacientes devido à idade do paciente.

- O tratamento não seria indicado para 17,9% devido à doença apresentar fibrose mínima, F0 ou F1, porque os protocolos atuais não recomendam o tratamento.

- O tratamento não poderia ser realizado em 3,9% dos pacientes pelo uso de drogas.

- Outros 2,1% dos pacientes apresentavam diversas condições para a impossibilidade de indicação para receber o tratamento.

2 - Quando a seleção e realizada pelos principais motivos da "contra-indicação total", entre os mesmos 431 pacientes o tratamento com interferon peguilado e ribavirina não pode ser indicado em 43% dos infectados pelos seguintes motivos:

- O tratamento é contra-indicado, não podendo ser realizado em 32,3% dos pacientes devido à diversas comorbidades do paciente.

- O tratamento é contra-indicado para 9,5% dos pacientes devido a o estado avançado da doença, já com cirrose descompensada.

- Outros 0,9% dos pacientes apresentavam diversas razões para apresentarem contra-indicações ao tratamento.

MEUS COMENTÁRIOS:

Podemos observar que aproximadamente 40% dos infectados com hepatite C apresentam contra-indicações totais e 50 % são inelegíveis para receber tratamento com interferon peguilado e ribavirina, ficando sumariamente excluídos da possibilidade de tratamento na atualidade.

Ficam então três perguntas, com meus comentários, em relação aos restantes 50% ou 60% que podem receber o tratamento:

Pergunta 1 - Todos os pacientes aceitam fazer o tratamento?

É sabidamente que não. Devido aos efeitos colaterais e adversos de um tratamento longo e penoso com interferon peguilado e ribavirina um percentual considerável de pacientes decide aguardar por medicamentos livres de interferon.

Pergunta 2 - E dos que realizam o tratamento, quantos resultam curados?

Devemos considerar que o tratamento com interferon peguilado e ribavirina consegue curar, segundo diversos estudos em todos os genótipos, entre 50% e 60% dos pacientes tratados.

Realizando então um rápido e fácil calculo matemático observaremos que dos 431 pacientes, no máximo 258 teriam condições de realizar o tratamento (isso se não fossem excluídos pelo fator idade) e que desses aproximadamente uns 130 resultariam curados, número que será ainda menor se consideramos os que não aceitassem realizar o tratamento para aguardar novos medicamentos livres de interferon.

Pergunta 3 - Vale à pena continuar utilizando interferon quando já em 2014 vamos dispor de três medicamentos orais (e mais dois em 2015) que em poucas semanas de tratamento e praticamente sem sofrimento pelos efeitos colaterais estarão curando mais de 85% dos infectados, de qualquer idade, com qualquer genótipo ou dano no fígado?

Dispensa qualquer comentário.

MINHA CONCLUSÃO DAS TRÊS PERGUNTAS

Já que comprovadamente o tratamento com interferon peguilado e ribavirina somente consegue beneficiar, isto é curar, entre 25% e 30% do total de infectados com hepatite C que deveriam realizar o tratamento, não podemos considerar que se trate do tratamento ideal, mas era a única opção existente durante mais de 10 anos.

Porém, se os novos medicamentos orais conseguem beneficiar com a cura a mais de 85% dos infectados, adianta perder tempo discutindo qual é o melhor tratamento na hepatite C?

No momento a barreira para acesso aos novos medicamentos orais é o alto preço. Se os fabricantes conseguissem oferecer um preço justo, competitivo com o custo atual do tratamento com interferon peguilado e ribavirina, o que acredito vai acontecer em breve pela concorrência entre os fabricantes, deveremos lutar todos juntos, governos, médicos, pacientes e planos privados de saúde para enterrar, com "honras militares" e "funeral de luxo", o tratamento com interferon peguilado.

Se desejar colocar sua opinião, participe com seu ponto de vista escrevendo para o e-mail hepato@hepato.com

Este artigo foi redigido no referente aos 431 pacientes com comentários e interpretação pessoal de seu autor, tomando como base a seguinte fonte:
ELIGIBILITY 1: A PROSPECTIVE, OBSERVATIONAL, MULTICENTRE STUDY EVALUATING HCV PATIENTS' CHARACTERISTICS OF ELIGIBILITY FOR ANTIVIRAL THERAPY IN REAL CLINICAL PRACTICE - N. Gamal, R. Vukotic, P. Andreone, on behalf of Eligibility Study Group, Dipartimento di Scienze Mediche e Chirurgiche, University of Bologna, Bologna, Italy - EASL-2014 - Abstract P713

Carlos Varaldo
hepato@hepato.com
www.hepato.com 01/05/2014


Devido à diversas comorbidades ou pela intolerância ao medicamento o tratamento com interferon peguilado e ribavirina não pode ser indicado a todos os infectados com hepatite C. Um estudo italiano apresentado como pôster no EASL-2014 confirma dados já conhecidos pelos médicos sobre a pobre resposta terapêutica e o grande número de infectados que atualmente não podem utilizar interferon.

O estudo, realizado em 45 hospitais de Itália de forma prospectiva incluiu 1.128 pacientes com hepatite C. Foi realizada uma seleção para retirar os pacientes que não apresentavam carga viral e, também, os que já tinham recebido tratamento.

No total, 431 pacientes eram potenciais candidatos para receber indicação de tratamento com interferon peguilado e ribavirina por primeira vez. Ao analisar quais os critérios de "não elegibilidade" para poder receber tratamento com interferon peguilado e ribavirina segundo os consensos e protocolos, mais da metade não poderia ser tratado.

1 - Os principais motivos da "impossibilidade de receber tratamento pela inegibilidade" com interferon peguilado e ribavirina em 431 pacientes com hepatite C foram os seguintes:

- O tratamento não poderia ser indicado para 33,4% dos pacientes devido à idade do paciente.

- O tratamento não seria indicado para 17,9% devido à doença apresentar fibrose mínima, F0 ou F1, porque os protocolos atuais não recomendam o tratamento.

- O tratamento não poderia ser realizado em 3,9% dos pacientes pelo uso de drogas.

- Outros 2,1% dos pacientes apresentavam diversas condições para a impossibilidade de indicação para receber o tratamento.

2 - Quando a seleção e realizada pelos principais motivos da "contra-indicação total", entre os mesmos 431 pacientes o tratamento com interferon peguilado e ribavirina não pode ser indicado em 43% dos infectados pelos seguintes motivos:

- O tratamento é contra-indicado, não podendo ser realizado em 32,3% dos pacientes devido à diversas comorbidades do paciente.

- O tratamento é contra-indicado para 9,5% dos pacientes devido a o estado avançado da doença, já com cirrose descompensada.

- Outros 0,9% dos pacientes apresentavam diversas razões para apresentarem contra-indicações ao tratamento.

MEUS COMENTÁRIOS:

Podemos observar que aproximadamente 40% dos infectados com hepatite C apresentam contra-indicações totais e 50 % são inelegíveis para receber tratamento com interferon peguilado e ribavirina, ficando sumariamente excluídos da possibilidade de tratamento na atualidade.

Ficam então três perguntas, com meus comentários, em relação aos restantes 50% ou 60% que podem receber o tratamento:

Pergunta 1 - Todos os pacientes aceitam fazer o tratamento?

É sabidamente que não. Devido aos efeitos colaterais e adversos de um tratamento longo e penoso com interferon peguilado e ribavirina um percentual considerável de pacientes decide aguardar por medicamentos livres de interferon.

Pergunta 2 - E dos que realizam o tratamento, quantos resultam curados?

Devemos considerar que o tratamento com interferon peguilado e ribavirina consegue curar, segundo diversos estudos em todos os genótipos, entre 50% e 60% dos pacientes tratados.

Realizando então um rápido e fácil calculo matemático observaremos que dos 431 pacientes, no máximo 258 teriam condições de realizar o tratamento (isso se não fossem excluídos pelo fator idade) e que desses aproximadamente uns 130 resultariam curados, número que será ainda menor se consideramos os que não aceitassem realizar o tratamento para aguardar novos medicamentos livres de interferon.

Pergunta 3 - Vale à pena continuar utilizando interferon quando já em 2014 vamos dispor de três medicamentos orais (e mais dois em 2015) que em poucas semanas de tratamento e praticamente sem sofrimento pelos efeitos colaterais estarão curando mais de 85% dos infectados, de qualquer idade, com qualquer genótipo ou dano no fígado?

Dispensa qualquer comentário.

MINHA CONCLUSÃO DAS TRÊS PERGUNTAS

Já que comprovadamente o tratamento com interferon peguilado e ribavirina somente consegue beneficiar, isto é curar, entre 25% e 30% do total de infectados com hepatite C que deveriam realizar o tratamento, não podemos considerar que se trate do tratamento ideal, mas era a única opção existente durante mais de 10 anos.

Porém, se os novos medicamentos orais conseguem beneficiar com a cura a mais de 85% dos infectados, adianta perder tempo discutindo qual é o melhor tratamento na hepatite C?

No momento a barreira para acesso aos novos medicamentos orais é o alto preço. Se os fabricantes conseguissem oferecer um preço justo, competitivo com o custo atual do tratamento com interferon peguilado e ribavirina, o que acredito vai acontecer em breve pela concorrência entre os fabricantes, deveremos lutar todos juntos, governos, médicos, pacientes e planos privados de saúde para enterrar, com "honras militares" e "funeral de luxo", o tratamento com interferon peguilado.

Se desejar colocar sua opinião, participe com seu ponto de vista escrevendo para o e-mail hepato@hepato.com

Este artigo foi redigido no referente aos 431 pacientes com comentários e interpretação pessoal de seu autor, tomando como base a seguinte fonte:
ELIGIBILITY 1: A PROSPECTIVE, OBSERVATIONAL, MULTICENTRE STUDY EVALUATING HCV PATIENTS' CHARACTERISTICS OF ELIGIBILITY FOR ANTIVIRAL THERAPY IN REAL CLINICAL PRACTICE - N. Gamal, R. Vukotic, P. Andreone, on behalf of Eligibility Study Group, Dipartimento di Scienze Mediche e Chirurgiche, University of Bologna, Bologna, Italy - EASL-2014 - Abstract P713

Carlos Varaldo
hepato@hepato.com
www.hepato.com

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