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quinta-feira, 8 de maio de 2014

Terapia da Hepatite C - Uma porta aberta ao futuro




Terapia da Hepatite C - Uma porta aberta ao futuro
09/05/2014

Editorial do "New England Journal of Medicine" de 4 de maio de 2014, fala sobre o futuro do tratamento da hepatite C com os novos medicamentos orais livres de interferon.

Começa o Editorial falando que o tratamento atual da hepatite C pode parecer um mistério de Orson Welles misturado a uma peça de Shakespeare, por ser cheio de enigmas, tragédias, desespero, redenção e triunfo.

Tudo começou com o interferon alfa (convencional) e a seguir com a introdução do interferon peguilado combinado a ribavirina aumentando as possiblidades de cura, mas durante mais de uma década nada novo apareceu, até a chegada dos inibidores de proteases, que se bem aumentavam a possibilidade de cura no genótipo 1 aumentavam grandemente os efeitos colaterais e adversos do tratamento, impedindo o tratamento de grande parte dos infectados.

No ano passado artigo do "New England Journal of Medicine" especulava sobre um futuro remoto de tratamento sem interferon, e agora, apenas um ano após dessa revisão, podemos falar que o futuro chegou.

Os resultados de vários estudos de fase 3 livres de interferon inequivocamente mostram a superioridade desses regimes sobre o tratamento padrão com interferon peguilado, ribavirina e um inibidor da protease no tratamento do genótipo 1, com taxas de resposta virológica sustentada de 93% a 99% no tratamento com sofosbuvir e ledipasvir.

Outros estudos relatados no "New England Journal of Medicine" mostram taxas de resposta igualmente elevados com uma combinação de diferentes drogas no tratamento do genótipo 1. Este regime inclui três DAAs - ABT-450 + ritonavir (ABT-450 / r) + ombitasvir, e dasabuvir com ou sem ribavirina. Esses estudos avaliaram a eficácia e segurança deste regime em pacientes não tratados previamente ou que foram previamente tratados com interferon peguilado e ribavirina, mas sem uma resposta virológica sustentada. Além disso, a segurança e a eficácia em pacientes com cirrose compensada foram observados especificamente em um estudo.

Em ambos os estudos envolvendo pacientes sem cirrose que recebiam tratamento pela primeira vez ou não respondedores a um tratamento anterior, as taxas de resposta sustentada foi de 96%, resultados que sugerem que os pacientes que não responderam ao interferon peguilado e ribavirina não são particularmente difíceis de tratar com este regime. Pacientes com cirrose apresentam uma resposta menor, mas a taxa de resposta foi ainda acima dos 90%. O estudo envolvendo pacientes com cirrose também avaliou um tratamento com duração de 12 semanas ou de 24 semanas e mostrou ser modestamente superior a taxa de resposta no grupo de 24 semanas (96%, contra 92% no grupo de 12 semanas), e uma análise secundária sugere uma maior resposta ao regime de 24 semanas, em comparação com o regime de 12 semanas em pacientes com infecção do genótipo 1-a com resposta nula ao tratamento com interferon peguilado e ribavirina (93% vs 80%).

No tratamento com interferon fatores como a origem racial ou étnica, IL28B genótipo e a carga viral influenciam na resposta do tratamento, mas no tratamento com sofosbuvir e ledipasvir esses fatores não jogam nenhum papel de destaque, provavelmente porque esses fatores não são do vírus, estando ligados somente ao interferon. Em um estudo o único fator encontrado que pode diminuir a possibilidade de cura com os medicamentos orais livres de interferon é a massa corporal, isto é, o peso acima do ideal perece afetar o tratamento. O genótipo 1-a mostrou responder menos que o genótipo 1-b, mas ao se adicionar a ribavirina o genótipo 1-a respondeu praticamente igual que o genótipo 1-b.

A resposta guiada pelo tratamento não será mais necessária. O declínio da carga viral é rápida e dramática, na semana 4 do tratamento com os medicamentos orais 99% dos pacientes encontram-se indetectáveis. Isso poderá facilitar já que todos poderão ser tratados em um regime único de duração da terapia.

Em relação aos genotipos 2 e 3 o que foi publicado no "New England Journal of Medicine" ano passado mostra que o genótipo 2 em 12 semanas de tratamento com sofosbuvir e ribavirina resultou em taxas de resposta de mais de 90% entre os pacientes não tratados previamente, mas apenas cerca de 60% de resposta sustentada entre os pacientes sem tratamento prévio infectados com o genótipo 3. Entre os não respondedores a um tratamento anterior a resposta foi de 86% no genótipo 2 e de 30% nos infectados com o genótipo 3 e ao se estender o tratamento para 24 semanas no genótipo 3 a resposta passou de 30% para 62%.

Os efeitos colaterais do tratamento com interferon peguilado e ribavirina é o fator que mais influencia no fracasso do tratamento. Já nos medicamentos orais livres de interferon o tratamento é de duração menor e os efeitos são mais leves, entre eles temos a fadiga, dor de cabeça, prurido, e sintomas gastrointestinais não específicos, a maioria dos pacientes não os considera graves. Podem acontecer níveis elevado de bilirrubina. Efeitos adversos considerados graves acontecem em menos de 5% dos pacientes tratados com os medicamentos orais.

Esclarecem os autores que a maioria dos ensaios clínicos foi realizada em indivíduos brancos de meia idade sem cirrose. Pacientes mais difíceis de tratar, tais como aqueles com cirrose, co-infectados HIV/HCV ou insuficiência renal foram incluídos em números pequenos nos estudos. Também não está claro se os regimes disponíveis até o momento poderão beneficias infectados com os genotipos 4, 5 e 6.

Finalmente, o custo do tratamento continuará a ser um impedimento para tratamento em larga escala da população infectada com esses tratamentos altamente eficazes. Este dilema não é somente dos países desenvolvidos como Estados Unidos e da Europa Ocidental, mas também um problema verdadeiramente global de saúde pública de grande impacto já que a maioria das pessoas infectadas pela hepatite C vive em regiões do planeta com recursos limitados.

Em artigo anteriormente publicado o "New England Journal of Medicine" colocava que o desafio será de fato saber como podemos aproveitar os avanços da medicina moderna, como é o tratamento oral sem interferon da hepatite C, para beneficiar aqueles que são mais necessitados.

Este artigo foi redigido com comentários e interpretação pessoal de seu autor, tomando como base a seguinte fonte:
Resumo do Editorial do "New England Journal of Medicine": Therapy of Hepatitis C - Back to the Future - T. Jake Liang, M.D., and Marc G. Ghany, M.D., M.H.Sc. - May 4, 2014DOI: 10.1056/NEJMe1403619 



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09/05/2014

Editorial do "New England Journal of Medicine" de 4 de maio de 2014, fala sobre o futuro do tratamento da hepatite C com os novos medicamentos orais livres de interferon.

Começa o Editorial falando que o tratamento atual da hepatite C pode parecer um mistério de Orson Welles misturado a uma peça de Shakespeare, por ser cheio de enigmas, tragédias, desespero, redenção e triunfo.

Tudo começou com o interferon alfa (convencional) e a seguir com a introdução do interferon peguilado combinado a ribavirina aumentando as possiblidades de cura, mas durante mais de uma década nada novo apareceu, até a chegada dos inibidores de proteases, que se bem aumentavam a possibilidade de cura no genótipo 1 aumentavam grandemente os efeitos colaterais e adversos do tratamento, impedindo o tratamento de grande parte dos infectados.

No ano passado artigo do "New England Journal of Medicine" especulava sobre um futuro remoto de tratamento sem interferon, e agora, apenas um ano após dessa revisão, podemos falar que o futuro chegou.

Os resultados de vários estudos de fase 3 livres de interferon inequivocamente mostram a superioridade desses regimes sobre o tratamento padrão com interferon peguilado, ribavirina e um inibidor da protease no tratamento do genótipo 1, com taxas de resposta virológica sustentada de 93% a 99% no tratamento com sofosbuvir e ledipasvir.

Outros estudos relatados no "New England Journal of Medicine" mostram taxas de resposta igualmente elevados com uma combinação de diferentes drogas no tratamento do genótipo 1. Este regime inclui três DAAs - ABT-450 + ritonavir (ABT-450 / r) + ombitasvir, e dasabuvir com ou sem ribavirina. Esses estudos avaliaram a eficácia e segurança deste regime em pacientes não tratados previamente ou que foram previamente tratados com interferon peguilado e ribavirina, mas sem uma resposta virológica sustentada. Além disso, a segurança e a eficácia em pacientes com cirrose compensada foram observados especificamente em um estudo.

Em ambos os estudos envolvendo pacientes sem cirrose que recebiam tratamento pela primeira vez ou não respondedores a um tratamento anterior, as taxas de resposta sustentada foi de 96%, resultados que sugerem que os pacientes que não responderam ao interferon peguilado e ribavirina não são particularmente difíceis de tratar com este regime. Pacientes com cirrose apresentam uma resposta menor, mas a taxa de resposta foi ainda acima dos 90%. O estudo envolvendo pacientes com cirrose também avaliou um tratamento com duração de 12 semanas ou de 24 semanas e mostrou ser modestamente superior a taxa de resposta no grupo de 24 semanas (96%, contra 92% no grupo de 12 semanas), e uma análise secundária sugere uma maior resposta ao regime de 24 semanas, em comparação com o regime de 12 semanas em pacientes com infecção do genótipo 1-a com resposta nula ao tratamento com interferon peguilado e ribavirina (93% vs 80%).

No tratamento com interferon fatores como a origem racial ou étnica, IL28B genótipo e a carga viral influenciam na resposta do tratamento, mas no tratamento com sofosbuvir e ledipasvir esses fatores não jogam nenhum papel de destaque, provavelmente porque esses fatores não são do vírus, estando ligados somente ao interferon. Em um estudo o único fator encontrado que pode diminuir a possibilidade de cura com os medicamentos orais livres de interferon é a massa corporal, isto é, o peso acima do ideal perece afetar o tratamento. O genótipo 1-a mostrou responder menos que o genótipo 1-b, mas ao se adicionar a ribavirina o genótipo 1-a respondeu praticamente igual que o genótipo 1-b.

A resposta guiada pelo tratamento não será mais necessária. O declínio da carga viral é rápida e dramática, na semana 4 do tratamento com os medicamentos orais 99% dos pacientes encontram-se indetectáveis. Isso poderá facilitar já que todos poderão ser tratados em um regime único de duração da terapia.

Em relação aos genotipos 2 e 3 o que foi publicado no "New England Journal of Medicine" ano passado mostra que o genótipo 2 em 12 semanas de tratamento com sofosbuvir e ribavirina resultou em taxas de resposta de mais de 90% entre os pacientes não tratados previamente, mas apenas cerca de 60% de resposta sustentada entre os pacientes sem tratamento prévio infectados com o genótipo 3. Entre os não respondedores a um tratamento anterior a resposta foi de 86% no genótipo 2 e de 30% nos infectados com o genótipo 3 e ao se estender o tratamento para 24 semanas no genótipo 3 a resposta passou de 30% para 62%.

Os efeitos colaterais do tratamento com interferon peguilado e ribavirina é o fator que mais influencia no fracasso do tratamento. Já nos medicamentos orais livres de interferon o tratamento é de duração menor e os efeitos são mais leves, entre eles temos a fadiga, dor de cabeça, prurido, e sintomas gastrointestinais não específicos, a maioria dos pacientes não os considera graves. Podem acontecer níveis elevado de bilirrubina. Efeitos adversos considerados graves acontecem em menos de 5% dos pacientes tratados com os medicamentos orais.

Esclarecem os autores que a maioria dos ensaios clínicos foi realizada em indivíduos brancos de meia idade sem cirrose. Pacientes mais difíceis de tratar, tais como aqueles com cirrose, co-infectados HIV/HCV ou insuficiência renal foram incluídos em números pequenos nos estudos. Também não está claro se os regimes disponíveis até o momento poderão beneficias infectados com os genotipos 4, 5 e 6.

Finalmente, o custo do tratamento continuará a ser um impedimento para tratamento em larga escala da população infectada com esses tratamentos altamente eficazes. Este dilema não é somente dos países desenvolvidos como Estados Unidos e da Europa Ocidental, mas também um problema verdadeiramente global de saúde pública de grande impacto já que a maioria das pessoas infectadas pela hepatite C vive em regiões do planeta com recursos limitados.

Em artigo anteriormente publicado o "New England Journal of Medicine" colocava que o desafio será de fato saber como podemos aproveitar os avanços da medicina moderna, como é o tratamento oral sem interferon da hepatite C, para beneficiar aqueles que são mais necessitados.

Este artigo foi redigido com comentários e interpretação pessoal de seu autor, tomando como base a seguinte fonte:
Resumo do Editorial do "New England Journal of Medicine": Therapy of Hepatitis C - Back to the Future - T. Jake Liang, M.D., and Marc G. Ghany, M.D., M.H.Sc. - May 4, 2014DOI: 10.1056/NEJMe1403619 



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