O objetivo do estudo era avaliar o efeito do telaprevir e do boceprevir na gravidade da depressão dos pacientes em tratamento da hepatite C. Considero pessoalmente que o número de pacientes incluídos foi pequeno, em especial daqueles que receberam tratamento com boceprevir, mas mesmo assim é interessante porque os resultados sinalizam os cuidados que devem ser observados durante o tratamento.
O estudo realizado nos Estados Unidos, em Houston, avaliou 110 pacientes em tratamento do genótipo 1 da hepatite C com telaprevir ou boceprevir no período entre julho de 2011 e maio de 2012, sendo 81 tratados com telaprevir e 29 com boceprevir. A idade média dos pacientes era de 54 anos e o peso médio pela massa corporal de 30,1 kg/m2 (representa bastante bem a população dos Estados Unidos, onde a obesidade é um serio problema). Vamos aos resultados:
- 32,9% dos pacientes em tratamento com telaprevir relataram sensação de depressão durante o tratamento.
- 24,1% dos pacientes em tratamento com boceprevir relataram sensação de depressão durante o tratamento.
- Entre os que interromperam o tratamento por qualquer causa, 35,1% relataram sensação de depressão durante o tratamento.
- Na 12ª semana de tratamento, 11,5% dos pacientes em tratamento com telaprevir apresentavam depressão entre moderada a extrema.
- Na 12ª semana de tratamento, 50% dos pacientes em tratamento com boceprevir apresentavam depressão moderada.
- Depressão grave foi observada em 2 pacientes com telaprevir na semana 4 do tratamento e em outros 2 na semana 12. Também um caso de depressão grave em 1 paciente em tratamento com boceprevir foi observado na semana 8 do tratamento.
- Depressão grave com intenção suicida que levou a interrupção do tratamento aconteceu em 1 paciente com telaprevir (1/82, representado 1,2% do grupo) e em 1 paciente com boceprevir (1/29, representado 3,4% do grupo).
- Não foi observada nenhuma diferença estatisticamente significativa na gravidade da depressão na utilização de qualquer dos inibidores de proteases na semana 12 do tratamento.
- Nenhum outro tipo de evento psiquiátrico que necessitou de internação aconteceu nesses pacientes.
- Outros efeitos colaterais encontrados durante o tratamento, como a fraqueza muscular que atingiu 32,4% dos pacientes, a insônia em 18% dos pacientes, a irritabilidade em 9% dos pacientes e a ansiedade em 5,4% dos pacientes.
Concluem os autores que a depressão leve é comumente observada em pacientes que estão sendo tratados com telaprevir ou boceprevir, mas geralmente não leva a interrupção do tratamento. As taxas de depressão severa e extrema são similares para os dois medicamentos.
MEU COMENTÁRIO
Como coloquei no inicio o número de participantes incluídos no estudo é pequeno, mas o resultado encontrado serve para indicar a médicos e pacientes os cuidados que devem ser seguidos no acompanhamento durante o tratamento com boceprevir e telaprevir.
O resultado mostra que o acompanhamento multidisciplinar, incluindo psiquiatras avaliando os pacientes é de importância total. Um paciente avaliado antes do tratamento que já apresenta qualquer alteração na ansiedade ou depressão deve receber tratamento antes de iniciar a terapia da hepatite C, devendo ser acompanhado durante todo o tratamento pelo psiquiatra, evitando assim o aparecimento de condições perigosas que possam levar a interrupção do tratamento ou, pior ainda, ao suicídio do paciente.
Este artigo foi redigido com comentários e interpretação pessoal de seu autor, tomando como base a seguinte fonte:
AASLD 2012 -Clinical Depression and psychiatric events during HCV therapy withTelaprevir or Boceprevir - L. Pham; O. Mousa; C. I. Egwim; S. A. Zela; V. Ankoma-Sey. - AASLD 2012 - Abstract 978
Carlos Varaldo
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