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segunda-feira, 29 de abril de 2013



Primeiros comentários do EASL 2013

Estou em pleno congresso europeu de fígado que está sendo realizado até domingo na Holanda.  Como sempre adianto minha primeira impressão e deixo para a próxima semana no regresso ao Brasil para analisar com calma e cuidados as apresentações, para poder filtrar o que for marketing de dados científicos.

Existem novidades, mas os dados finais parece que estão sendo guardados para apresentação no congresso americano no final do ano. Algumas pesquisas, já na fase 3 dos ensaios clínicos são muito promissórias, em especial na possibilidade de se dispor em um relativo curto espaço de tempo tratamentos para hepatite C livres de interferon, totalmente orais.

É necessário alertar que em pesquisas com seres humanos podem acontecer imprevistos, em geral nessa fase três quando milhares de pessoas são incluídas nos ensaios podem surgir problemas com a segurança da droga, a eficácia, a resistência viral ou interações com outros medicamentos.

Um exemplo disso está acontecendo com o Sofosbuvir que prometido ano passado como um revolucionário medicamento livre de interferon, com percentagens de cura de 100% hoje é observado que nos casos de pacientes difíceis de tratar deverá ser utilizado combinado com o interferon peguilado. O custo do Sofosbuvir será outro grave problema, ele será extraordinariamente caro. Combinado com outros medicamentos orais em fases de pesquisa parece que poderá ser um tratamento oral livre de interferon, mas nesse caso o custo será ainda mais caro.

Pessoalmente aposto minhas fichas nos medicamentos pesquisados pela Abbott (serão comercializados pela Abbvie) como um futuro tratamento sem interferon.  Os resultados na fase 2 do estudo Aviator com mais de 500 pacientes no ensaio clínico são extraordinários.  Com somente 8 semanas de tratamento oral combinando três medicamentos com a ribavirina em pacientes nunca antes tratados infectados com o genótipo  1 da hepatite C obtiveram 88% de possibilidade de cura e no tratamento de 12 semanas a cura chegou a 96% e, mais impressionantes são os resultados em pacientes nulos de resposta a um tratamento anterior com interferon peguilado que são considerados os mais difíceis de tratar, entre os quais a cura foi de 93% em 12 semanas de tratamento.

O fantástico é que o resultado é o mesmo em pacientes com alta ou baixa carga viral, com qualquer grau de fibrose, com qualquer resultado do IL28B e com qualquer subtipo do genótipo 1, seja 1-a ou 1-b, isso significa que não mais serão necessários exames de carga viral ou biopsias para realizar o tratamento.

Isso vai implicar em mudanças enormes no paradigma do tratamento da hepatite C.  Será um grave problema para o governo, pois milhares irão querer ser tratados, será um problema para os médicos especialistas, pois qualquer clínico geral poderá tratar a hepatite C já que praticamente não existem efeitos adversos graves e com exames simples, como o hemograma o tratamento pode ser acompanhado. Os atuais especialistas continuarão ocupados, mas cuidando dos casos mais avançados de cirrose e suas complicações.

Felicidade total será a dos infectados já que se tudo correr sem problemas na fase 3 do ensaio clínico, já em andamento recrutando 2.600 pacientes no mundo todo, passarão a ter um tratamento simples que poderá ser realizado por milhares de médicos até no mais escondidos municípios do interior do país.

OK, ainda temos três dias de congresso, muita coisa ainda por ver.  Temos outros medicamentos, como o tratamento oral com o Faldaprevir da Boerhinger que também apresenta excelentes resultados e comentarei na próxima semana..


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