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quarta-feira, 1 de maio de 2013


Tratamento

Novos remédios poderão curar a hepatite C em 2015

Resultados de testes clínicos apontam que, em poucos anos, o vírus da hepatite C poderá ser eliminado em quase todos os infectados

Vivian Carrer Elias
vírus da Hepatite
Brasil tem mais de 1,5 milhão de infectados com o vírus da hepatite (Thinkstock)
"Há um número muito grande de pessoas infectadas pelo vírus da hepatite C. São mais de 170 milhões de indivíduos no mundo e cerca de 1,5 milhão no Brasil. A infecção pode evoluir para doenças graves, como o câncer de fígado." Maria Lúcia Ferraz, vice-presidente da SBH
Nesta semana, a comunidade médica teve acesso aos resultados de testes clínicos envolvendo uma série de medicamentos novos para tratar a hepatite C. Embora as conclusões não façam parte da fase final das pesquisas, já que as drogas ainda precisam ser testadas mais vezes, especialistas acreditam que já é viável pensar em uma possível cura para a doença. Os dados animadores foram divulgados durante o The Liver Meeting (A reunião do fígado, em tradução literal), encontro anual da Associação Americana para Estudo das Doenças do Fígado, que terminou na última terça-feira em Boston, Estados Unidos. “Estimamos que, em 2015, quase 100% dos pacientes poderão ser curados”, disse ao site de VEJA a gastroenterologista Maria Lúcia Ferraz, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Hepatologia (SBH) e uma das médicas brasileiras presentes ao evento.
O desenvolvimento de novos remédios para tratar a hepatite C está em constante avanço. Os pacientes com a doença costumavam ser tratados com o interferon, um quimioterápico que estimula o sistema imunológico, associado ao antiviral ribavirina. O tratamento conseguia curar de 40% a 45% dos doentes e precisava ser seguido por um período que variava de 48 a 72 semanas. Em julho deste ano, o Ministério da Saúde anunciou que o Sistema Único de Saúde (SUS) passaria a oferecer dois novos remédios para a hepatite C: o boceprevir e o telaprevir, inibidores de protease que impedem a replicação do vírus e impossibilitam o progresso da doença. Associado ao interferon e à ribavirina, a taxa de cura da terapia subiu para 75%, com uma duração de até 48 semanas.
Segundo Maria Lúcia Ferraz, foram apresentados durante o encontro estudos feitos com cerca de dez novas drogas contra a hepatite C, que agem de maneiras diferentes sobre o vírus — entre elas, o sofosbuvir, da farmacêutica Gilead. A composição desses medicamentos, de acordo com a médica, curou de 90% a 100% dos pacientes com um tratamento seguido por até 24 semanas e com efeitos adversos menores do que os da terapia convencional. “Embora os resultados não sejam definitivos, as conclusões devem ser confirmadas nos próximos testes”, diz Maria Lúcia.
Quais as conclusões que a senhora tirou após participar do The Liver Meeting 2012?Nesse congresso, os pesquisadores mostraram estudos com novas drogas para tratar a hepatite C. Esses medicamentos atuam sobre o vírus por meio de vários mecanismos diferentes e, fazendo composições com essas drogas, os tratamentos tiveram respostas muito altas. Os resultados fazem parte de fases iniciais de estudos, e a maioria atingiu taxa de cura entre 90% e 100%. Mas acredito que esses números vão se repetir conforme as pesquisas avançarão. A mensagem do congresso é que a heptatite C vai ser muito bem equacionada nos próximos anos. Não é para já, mas acreditamos que, em 2015, quase 100% dos pacientes poderão ser curados.
Podemos esperar pela cura da hepatite C em 2015? Na verdade, a partir de 2015 vamos chegar muito mais perto da cura, pois os testes com a nova geração de medicamentos deverão ser finalizados. Lógico que há pacientes cujo tratamento é muito mais difícil, pois apresentam a doença em estágios muito avançados. Talvez não vamos conseguir curar esses pacientes, mas começamos a vislumbrar a possibilidade de ao menos controlar a hepatite C neles.
Se os testes finais desses medicamentos se confirmarem, qual será o avanço do tratamento da hepatite C? O boceprevir e o telaprevir, que são os inibidores de protease recentemente aprovados no Brasil para tratamento de hepatite C, curam até 75% dos pacientes e o tratamento dura, em geral, um ano. As novas gerações de remédios para a doença podem curar entre 90% e 100% dos indivíduos infectados, sendo tomadas por no máximo seis meses. Além disso, os efeitos adversos, embora não sumam completamente, têm se mostrado muito menores. Ou seja, eles abrem portas para um tratamento cada vez mais curto, eficaz e seguro para o problema. 
Qual é a importância do surgimento de novos remédios para essa doença?Primeiramente, há um número muito grande de pessoas infectadas pelo vírus da hepatite C. São mais de 170 milhões de indivíduos no mundo e cerca de 1,5 milhão no Brasil. Além disso, a infecção pode evoluir para doenças graves, como o câncer de fígado. Então, encontrar medicamentos novos para uma doença comum e tão grave é essencial.


Em dez anos, hepatite C terá cura total. E sem efeitos colaterais

É inegável o avanço que os novos medicamentos de primeira geração trazem para os pacientes com hepatite C. Embora os resultados sejam positivos para a maioria dos pacientes, 25% ficam sem a cura e ainda podem produzir cepas resistentes às drogas inovadoras. Hugo Cheinquer, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, é otimista sobre a cura da hepatite para os próximos anos. Segundo ele, os congressos internacionais já apresentam resultados de estudos fase 1 e fase 2 com medicamentos mais modernos, de segunda geração.
"Em quatro anos, o paciente terá que tomar apenas um comprimido a mais por dia, sem a adição de efeitos colaterais, com taxas de cura para quase 90%. Além disso, o tratamento poderá ser encurtado em 80% a 90% das pessoas", diz. Com os novos medicamentos, as pessoas vão ter que tomar quase 20 comprimidos por dia.
Um pouco mais distante, em 2020, será possível fazer o tratamento entre três e seis meses, sem o uso do interferon e da ribavirina. "Nos próximos dez anos, o vírus C vai ter uma cura fantástica, ultrapassando os 90% e sem nenhum efeito colateral", afirma. Isso, é claro, se os estudos com um maior número de pacientes não apresentarem efeitos adversos como problemas cardíacos ou surgimento de neoplasias.
"Quando o momento da cura chegar, o nosso desafio será encontrar as pessoas em casa. No total, 75% das pessoas, mesmo a dos países desenvolvidos não sabem que têm a doença". A hepatite C não se manifesta de forma grave e a pessoa infectada não apresenta sintomas durante muitos anos.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Hepatologia, dois milhões de brasileiros têm a doença, responsável por mais de 70% das mortes entre todos os tipos de hepatites ocorridas na última década no Brasil.

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